Os cenários climáticos de 2015, que serviram de base para a elaboração da Estratégia CLIMA-Madeira, foram desenvolvidos a partir dos resultados obtidos no projeto CLIMAAT II, concluído em 2006. Este projeto fez uso de técnicas avançadas de regionalização dinâmica, aplicadas sobre o modelo de circulação global HadCM3, com o objetivo de produzir previsões climáticas detalhadas para a Região Autónoma da Madeira. As projeções climáticas resultantes focaram-se, em particular, nos cenários de emissões A2 e B2, tal como definidos pelo Special Report on Emission Scenarios (SRES) do IPCC.
O Arquipélago da Madeira situa-se geograficamente na região subtropical, apresentando um clima ameno, tanto no inverno como no verão, exceto nas zonas mais elevadas, onde são observadas temperaturas mais baixas. O efeito moderador do mar nas temperaturas faz-se sentir na reduzida amplitude térmica observada nas ilhas. Alguns sistemas depressionários que atravessam o Atlântico descem até à latitude da Madeira durante os meses de inverno, observando-se igualmente a formação de depressões na vizinhança do arquipélago, podendo dar origem a precipitação abundante. No verão, predominam ventos com rumo do quadrante norte associados ao ramo leste do anticiclone dos Açores.
Clima Observado
Com base na Normal Climática relativa ao período 1961-1990, a temperatura média anual na Madeira varia entre um mínimo de 8ºC, nos picos mais elevados, e 19ºC nas zonas costeiras. A região do Funchal, situada na vertente sul a jusante dos ventos dominantes, é a zona mais quente da ilha. No inverno, a média das temperaturas mínimas desce um pouco abaixo dos 4ºC, nas regiões elevadas, e, junto da costa, é ligeiramente superior a 13ºC. No verão, observa-se, em média, 16ºC de temperatura máxima nos picos mais elevados e 23ºC nas zonas costeiras. No Porto Santo, os meses mais frios são janeiro e fevereiro, e a temperatura mais elevada registada no período 1961-1990 foi de 35,3ºC, em agosto. Em relação à temperatura mínima absoluta, Porto Santo registou 7,4ºC. A temperatura média no Porto Santo (18,4ºC) é ligeiramente mais baixa do que no Funchal (18,7ºC).
A média da precipitação acumulada anualmente na Madeira atinge um máximo próximo dos 3400 milímetros (mm), nos picos mais elevados, e um mínimo na zona do Funchal (menos de 600 mm).Observa-se, na distribuição da precipitação anual, uma assimetria norte-sul, com bastante mais precipitação, à mesma altitude, na costa norte.
A assimetria norte-sul da distribuição da precipitação acumulada não é tão acentuada no inverno comparando com a escala anual, embora continue a ser uma das características significativas da distribuição espacial. Nas zonas mais altas, a precipitação acumulada, no inverno, ultrapassa ligeiramente os 1200 mm, enquanto nas regiões do Funchal e do vale do Machico é cerca de 300 mm.
Observa-se, na distribuição da precipitação anual, uma assimetria norte-sul, com bastante mais precipitação, à mesma altitude, na costa norte.
Nos meses de verão, observa-se cerca de 150 mm de precipitação nas zonas elevadas (exceto Arieiro) e valores ligeiramente inferiores a 50 mm na costa sul da ilha, tornando-se, assim, mais evidente a assimetria norte-sul na distribuição da precipitação nesta estação do ano. O facto de chover mais na parte norte da Madeira durante o verão está claramente associado ao rumo dominante do vento (norte) nesta estação e ao facto de a precipitação ser essencialmente orográfica.
Em contraste, a ilha do Porto Santo, apesar de afetada pelos mesmos sistemas meteorológicos, é substancialmente mais seca, com uma precipitação anual média de 384 mm.
Cenários climáticos futuros
Os resultados indicam um aumento generalizado da temperatura média, entre 1,3 e 3 °C, e uma diminuição da precipitação anual em cerca de 30% no final do século XXI.
Variação da precipitação e temperatura na Ilha da Madeira relativa ao período de referência entre 1970 e 1990:
As projeções climáticas para o Arquipélago da Madeira foram regionalizadas recorrendo aos cenários de emissões do “Special Report on Emissions Scenarios”8 para o séc. XXI, propostos pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla inglesa) em 2001, cobrindo um espectro diversificado de situações económicas, sociais, demográficas e ambientais, divididas nas famílias A1, A2, B1 e B2. Estes cenários têm correspondência com os novos cenários do IPCC (os “Representative Concentration Pathways) que pode ser consultada no Observatório CLIMA-Madeira. O cenário com menores emissões é o cenário B1 (com concentrações de dióxido de carbono (CO2) menores do que 600 partes por milhão em volume (ppmv), durante todo o séc. XXI), enquanto o cenário mais extremo é o A1 (com concentrações superiores a 900 ppmv, em 2100). No cenário A2, a concentração de CO2 ultrapassa 800 ppmv no fim do séc. XXI, enquanto no cenário B2 é de cerca de 600 ppmv, em 2100. Como referência, note-se que, em 2015, a concentração média de CO2 na atmosfera era de 402 ppmv.
Este estudo teve por base os resultados do projeto CLIMAAT II que, recorrendo a métodos de regionalização dinâmica, usou o modelo de circulação global HadCM3 para os cenários A2 e B2, obtendo uma grelha, com uma resolução espacial de 1 km para a ilha da Madeira, de dados diários de precipitação e temperatura até ao final do século XXI.
Os resultados indicam um aumento generalizado da temperatura média, entre 1,3 e 3 °C, e uma diminuição da precipitação anual em cerca de 30% no final do século XXI.
A variação espacial das anomalias de precipitação e temperatura para o cenário A2 entre 2070 e 2099 quando comparado com a normal climatológica do período de referência entre 1970 e 1990.
As variações mensais de longo prazo (2070-2099), para a temperatura nos cenários A2 e B2 relativas ao período de referência 1970-1999 para a ilha da Madeira.
As projeções sazonais indicam um aumento mais significativo da temperatura, durante a primavera, na ilha da Madeira e, no inverno, na ilha do Porto Santo. Verifica-se, também, uma maior diminuição da precipitação entre o outono e a primavera em ambas as ilhas. Quando analisada a variação da precipitação mensal em relação ao total anual do período de referência, projeta-se que o mês de janeiro seja dos mais afetados, com diminuições relativas entre os 8 e 10%, quer para a ilha da Madeira, quer para a ilha do Porto Santo. Em termos homólogos, ou seja, comparando a média da precipitação mensal entre o cenário projetado e o período de referência para o mês de janeiro, essa variação situa-se entre os 34 e os 40% na Madeira e entre os 35 e 44% no Porto Santo. A Tabela 2 e a Tabela 3 descrevem com mais detalhe as variações mensais, sazonais e anuais entre os cenários de longo prazo (2070-2099) e o período de referência, para as ilhas da Madeira e do Porto Santo.
Verifica-se, também, uma maior diminuição da precipitação entre o outono e a primavera em ambas as ilhas. Quando analisada a variação da precipitação mensal em relação ao total anual do período de referência, projeta-se que o mês de janeiro seja dos mais afetados, com diminuições relativas entre os 8 e 10%, quer para a ilha da Madeira, quer para a ilha do Porto Santo. Em termos homólogos, ou seja, comparando a média da precipitação mensal entre o cenário projetado e o período de referência para o mês de janeiro, essa variação situa-se entre os 34 e os 40% na Madeira e entre os 35 e 44% no Porto Santo.
De acordo com o relatório de 2007 do IPCC, os cenários projetam uma subida do nível médio do mar de 35 cm até final deste século. No contexto do estudo CLIMAAT II11, os autores consideram razoável assumir um aumento de 50 cm até ao final do séc. XXI. Atualmente, e segundo o último relatório do IPCC12, o nível médio global do mar pode subir até um valor máximo de 82 cm no final do século.
Contudo, há publicações científicas que apontam para valores superiores a 100 cm. Especificamente para o arquipélago da Madeira, Kopp e colegas13 projetam um valor de 75 cm até 2100, no cenário RCP 8.5 do IPCC (equivalente ao cenário A1).
Recursos
- Mudanças Climáticas nas Regiões Insulares (Tese de Doutoramento)
- Relatório do Clima (observado e cenários) do Projeto CLIMAAT
Relatórios
- Estratégia da Adaptação – Capítulo Clima