Para o turismo na RAM (ilhas da Madeira e do Porto Santo), promoveu-se a avaliação da vulnerabilidade do sistema turístico às alterações climáticas, no sentido de propor as medidas de adaptação mais adequadas para minimizar os efeitos potencialmente gravosos e explorar oportunidades.

Neste contexto, o trabalho desenvolveu-se através da identificação de impactes em quatro tipologias de oferta turística (Funchal e património cultural; Natureza e paisagem terreste; Natureza e paisagem marinha; e Porto Santo), nas infraestruturas associadas ao turismo e na procura de turismo na RAM (enquadrados na avaliação dos impactes potenciais e na quantificação da vulnerabilidade às alterações climáticas).

Na definição das vulnerabilidades associadas à procura, considera-se a análise dos padrões de conforto térmico dos turistas (nacionalidades) que visitam a Madeira, para além da quantificação da alteração, na procura para cada impacte, associada ao produto turístico, e de aspetos relacionados com a comunicação e imagem associadas ao turismo. Este setor é ainda analisado transversalmente, tendo em conta os impactes e vulnerabilidades de setores considerados chave para o Turismo, como a Biodiversidade, Energia, Agricultura e Floresta.

A cidade do Funchal apresenta-se já muito vulnerável, principalmente devido à ocorrência de cheias e movimentos de vertente, sendo que, no curto prazo, este nível de vulnerabilidade se deverá manter. A longo prazo, a subida do nível do mar, conjugada com outros fatores, promoverá um aumento da vulnerabilidade para crítico.

O sistema que permite a fruição da atual paisagem da Região Autónoma da Madeira, com as características atuais, que atrai turistas, apresenta, genericamente, uma vulnerabilidade com tendência negativa. Esta vulnerabilidade está associada à degradação de alguns habitats (como a Laurissilva), ao abandono da agricultura como atividade económica relevante, à destruição de espécies endémicas e a vários riscos de ação cumulativa – incêndios, pragas e expansão de plantas invasoras exóticas.

O aumento da suscetibilidade à ocorrência de inundações marítimas, na ilha do Porto Santo, deve-se à subida do nível médio do mar. As áreas mais vulneráveis a esta sobreposição de fenómenos, às quais se soma a pressão humana, são as zonas costeiras mais baixas e arenosas. Assim, a vulnerabilidade do Porto Santo poderá atingir o nível crítico a longo prazo, acompanhando a tendência de subida do nível do mar.

As estruturas rodoviárias potencialmente relevantes, do ponto de vista turístico, são atualmente vulneráveis, existindo uma tendência para agravamento, a curto prazo, e manutenção a longo. Este comportamento deve-se ao aumento do risco de incêndio e o consequente aumento de material sólido disponível para ser transportado, bem como à manutenção dos níveis de vulnerabilidade associados à suscetibilidade à ocorrência de movimentos de massa em vertentes, e de cheias para o curto prazo. A longo prazo projeta-se uma diminuição da suscetibilidade à ocorrência de movimentos de massa em vertentes, que contribuirá para a diminuição da vulnerabilidade destas estruturas.

As estruturas marítimas (ex: portos e marinas), relevantes do ponto de vista turístico, apresentam uma vulnerabilidade neutra, não apresentando tendência para agravamento a curto prazo, sendo que a longo prazo a vulnerabilidade será muito negativa, fruto da subida no nível médio do mar.

No contexto do conforto térmico, para a ilha da Madeira (Funchal), a vulnerabilidade terá tendência para aumentar ao longo do tempo, devido à subida da temperatura, até ao nível muito negativo para o final do século. A vulnerabilidade da ilha do Porto Santo, no contexto do conforto térmico, genericamente, é assinalada como uma eventual oportunidade a médio prazo e negativa a longo prazo. O efeito positivo do aumento da temperatura deve-se, essencialmente, ao mercado francês e português.

Sendo o setor do turismo transversal a todos os outros setores, as vulnerabilidades identificadas são dependentes das vulnerabilidades dos setores já mencionados. Assim, também a sua adaptação está ligada à adaptação levada a cabo para cada setor.

No entanto, algumas medidas específicas podem ser ponderadas, tanto para a procura como oferta dos vários produtos turísticos da Madeira, nomeadamente: a gestão e manutenção de infraestruturas rodoviárias e marítimas, dimensionadas ao novo contexto climático; a utilização de espécies vegetais autóctones e adaptadas às condições edafoclimáticas – reflorestação enquadrada com a preservação da floresta Laurissilva e dos valores naturais associados ao turismo de natureza; o Programa de “Turismo Sustentável” – certificação de responsabilidade ambiental, incluindo a otimização na utilização dos recursos hídricos e energéticos, monitorização e criação de cotas para estruturas turísticas com necessidades intensivas de água (campos de golf; piscinas e outros); a diminuição da sazonalidade, através da estimulação da procura nos meses de inverno; o reforço do peso da Cultura no ordenamento estratégico do Turismo; a integração da adaptação no observatório do Turismo; os Programas “Mais Natureza”, com hierarquização dos percursos pedonais, comunicação dos seus riscos (nomeadamente, as aluviões), o desenvolvimento e melhoria das infraestruturas para a prática de atividades de natureza; a transferência de recursos do Turismo para a agricultura, tendo em vista a preservação das levadas e paisagem agrícola (apoio à agricultura, para a manutenção das estruturas, que são disponibilizadas aos turistas (eventual tarifa), principalmente nas levadas).