A avaliação dos impactes das alterações climáticas na saúde humana dos residentes na ilha da Madeira, com vista a reduzir a sua vulnerabilidade a doenças associadas às alterações climáticas, centrou-se nos impactes na saúde associados às ondas de calor, à qualidade do ar (partículas inaláveis – PM10, ozono troposférico e pólenes) e às doenças transmitidas por vetores (mosquitos e carraças).

Ondas de calor
Os resultados obtidos mostram que, relativamente ao cenário de referência (1970-1999), em todos os cenários futuros, a temperatura aumenta, enquanto a precipitação diminui. Tendo por base a definição de onda de calor da Organização Meteorológica Mundial, na qual se considera que ocorre uma onda de calor quando, num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, as temperaturas máximas do ar são 5ºC superiores à média das temperaturas máximas no período de referência (1971-2000), conclui-se que, atualmente, o impacte na saúde resultante de episódios de onda de calor é muito baixo (vulnerabilidade atual neutra).
A longo prazo (2070- 2099), é esperado um aumento significativo de episódios de onda de calor. Apesar de o aumento ser mais evidente no cenário A2, o padrão global é similar para ambos os cenários avaliados. É provável que ocorram episódios de onda de calor em todos os concelhos, mas com maior significância na Ponta do Sol e Ribeira Brava, seguidos de Calheta e Funchal. Abril e maio serão os meses mais afetados, enquanto julho e agosto serão os menos afetados. O impacte na saúde é expetável que seja muito negativo para o cenário B2, admitindo-se que possam ocorrer níveis críticos para o cenário A2.
A longo prazo (2070- 2099), é esperado um aumento significativo de episódios de onda de calor. Apesar de o aumento ser mais evidente no cenário A2, o padrão global é similar para ambos os cenários avaliados. É provável que ocorram episódios de onda de calor em todos os concelhos, mas com maior significância na Ponta do Sol e Ribeira Brava, seguidos de Calheta e Funchal. Abril e maio serão os meses mais afetados, enquanto julho e agosto serão os menos afetados. O impacte na saúde é expetável que seja muito negativo para o cenário B2, admitindo-se que possam ocorrer níveis críticos para o cenário A2.

Qualidade do ar
Os impactes associados à qualidade do ar foram apenas avaliados para o Funchal. Em relação à concentração de partículas inaláveis – PM10 –, verificou-se que este poluente tem uma vulnerabilidade atual muito negativa, sendo expectável o agravamento desta situação no futuro. Em contraste com as PM10, as concentrações de ozono atuais não têm tido um impacte significativo na saúde (vulnerabilidade atual neutra).
É provável que no futuro venha a verificar-se um aumento gradual dos impactes na saúde, associados com as concentrações mais elevadas de PM10 e também de ozono, com maior nível de preocupação a longo prazo para ambos os cenários. Os impactes na saúde, com origem nos pólenes, também poderão ser uma preocupação no futuro, associados a uma distribuição sazonal diferente da atual (vulnerabilidade atual negativa).

Doenças transmitidas por vetores
As doenças que oferecem uma maior preocupação, numa perspetiva de saúde pública, são as transmitidas pelas espécies de mosquito – Aedes aegypti e Culex pipiens e carraça – Ixodes ricinus. É expectável que, no futuro, a Madeira esteja especialmente vulnerável a estes impactes, devido ao seu clima ameno, à sua rica flora e fauna e à sua localização geográfica.

O mosquito Aedes aegypti foi detetado pela primeira vez na Madeira em 2005 e atualmente não se encontra infetado com nenhum dos vírus considerados preocupantes para a saúde pública (dengue, febre-amarela, chikungunya). Contudo, encontrou no passado recente condições favoráveis à sua proliferação e foi responsável pelo surto de febre de dengue de 2012/2013. No cenário de referência, assumindo que a população de mosquitos está infetada, o risco estimado de transmissão da dengue é baixo (vulnerabilidade atual negativa). O risco de transmissão tenderá a aumentar, sendo máximo no cenário climático A2 de longo prazo.

Atualmente, os estudos disponíveis revelam que o mosquito Culex pipiens não está infetado com o vírus do oeste do Nilo e, consequentemente, o risco atual desta doença é insignificante. Dada a possibilidade da população de Culex pipiens ficar infetada, considera-se haver risco de transmissão da febre do oeste do Nilo (vulnerabilidade atual negativa), prevendo-se um aumento do risco em cenários de longo prazo.

A carraça Ixodes ricinus está atualmente infetada com vários agentes patogénicos, incluindo a Borrelia lusitaniae, a bactéria responsável pela doença de Lyme (ou Borreliose). No presente, existe o risco de transmissão da doença de Lyme, pelo que se considera que a vulnerabilidade atual é muito negativa. No futuro, o risco de transmissão desta doença é provável que se mantenha, podendo as alterações climáticas vir a alterar os períodos sazonais favoráveis para a transmissão da doença.

As alterações climáticas na ilha da Madeira aumentarão, muito provavelmente, o risco de transmissão das doenças transmitidas por mosquitos, em todos os concelhos. Tendo em conta o elevado número de pessoas que visitam a ilha, e o intercâmbio de bens, é razoável assumir que existe um risco real de introdução destes vírus na Madeira e da sua propagação nos próximos anos. Uma vez que estes vírus são transmitidos pelo mesmo vetor, assume-se que os riscos de transmissão das doenças serão idênticos para todas.

Considerando o impacte significativo que as doenças transmitidas por mosquitos podem ter na saúde pública, é fundamental que as medidas de controlo do mosquito, assim como os programas de vigilância dos mosquitos e dos hospedeiros, sejam reforçados e avaliados periodicamente.

Globalmente, as medidas de adaptação às alterações climáticas no setor da saúde humana têm vindo a desenvolver-se nos últimos anos, associadas a alguns dos recentes eventos climáticos extremos, por exemplo, ondas de calor e inundações. Uma das principais medidas de adaptação é o sistema de aviso e alerta, prevenindo as autoridades de saúde competentes, e a população em geral, para os riscos relacionados com as alterações climáticas.

Outras medidas passam por fortalecer os cuidados de saúde primários para o possível aumento de doenças cardiorrespiratórias e/ou transmitidas por vetores, promover campanhas de sensibilização para os profissionais de saúde, população em geral e comunicação social sobre os riscos associados às alterações climáticas, ou/e, ainda, tornar a informação de sensibilização e alerta mais acessível, utilizando diversos canais de divulgação (por exemplo: Televisão, rádio, mensagens SMS, aplicativos móveis, entre outros).