Dadas as suas características naturais e as especificidades na ocupação do território, a ilha da Madeira é particularmente vulnerável a diversos fenómenos naturais e, naturalmente, a alterações que possam induzir modificações nas condições dos sistemas. Torna-se, assim, premente promover a avaliação dos impactes provocados pelas alterações climáticas sobre esses fenómenos na Madeira, nomeadamente cheias e aluviões, movimentos de massa em vertentes, e subida do nível médio das águas do mar.

Cheias e aluviões

Tipicamente, as cheias na RAM estão associadas a episódios de precipitação intensa, em períodos de apenas algumas horas. A ilha de Porto Santo (em particular, a cidade) é também afetada por cheias, embora com menor relevância do que na ilha da Madeira. No contexto das projeções para a ocorrência de cheias e aluviões, não é possível concluir sobre uma tendência clara acerca da perigosidade das mesmas, pois os modelos climáticos regionalizados para a Madeira não permitem, ainda, fazer projeções fiáveis, pelo que os utilizados subestimam os valores elevados de precipitação em curtos períodos de tempo (horários, por exemplo). No entanto, a vulnerabilidade atual é já crítica, dados os impactes observados resultantes destes fenómenos.

No contexto das projeções realizadas, foi identificada uma potencial diminuição futura da frequência de dias com precipitações elevadas, o que implica uma diminuição da frequência de episódios subdiários com precipitações elevadas. No entanto, uma menor frequência de eventos de precipitação elevada poderá implicar uma acumulação superior de depósitos nas vertentes e nos leitos fluviais, podendo fazer com que as cheias/aluviões adquiram uma severidade aumentada pela quantidade de material disponível, pelo efeito de estrangulamento dos leitos e pela evolução futura da erosão do solo. Importa considerar que este fenómeno é influenciado pelo coberto vegetal, sobretudo, através do seu efeito sobre os movimentos de massa associados às aluviões (também influenciando os movimentos de massa em vertentes).

No contexto das projeções realizadas, foi identificada uma potencial diminuição futura da frequência de dias com precipitações elevadas, o que implica uma diminuição da frequência de episódios subdiários com precipitações elevadas. No entanto, uma menor frequência de eventos de precipitação elevada poderá implicar uma acumulação superior de depósitos nas vertentes e nos leitos fluviais, podendo fazer com que as cheias/aluviões adquiram uma severidade aumentada pela quantidade de material disponível, pelo efeito de estrangulamento dos leitos e pela evolução futura da erosão do solo. Importa considerar que este fenómeno é influenciado pelo coberto vegetal, sobretudo, através do seu efeito sobre os movimentos de massa associados às aluviões (também influenciando os movimentos de massa em vertentes).

Movimentos de massa em vertentes

Estes movimentos assumem, na sua maioria, importância a dois níveis: por um lado, pelo impacte potencialmente danoso que provocam no local de ocorrência; por outro, pelo contributo fundamental que têm na produção de material sólido, de diversas dimensões, que chega aos fundos dos vales e alimenta os caudais, durante os períodos de precipitações intensas.

Os eventos de precipitação relativamente intensa são o fator desencadeante essencial da ocorrência de movimentos de vertente na Madeira. Ao mesmo tempo, há um conjunto de fatores condicionantes do fenómeno que inclui, entre os principais, o declive, as caraterísticas dos materiais (superficiais e subsuperficiais) e o coberto vegetal.

A distribuição dos declives mais elevados e a presença de formações superficiais pouco consolidadas têm forte influência na distribuição espacial da suscetibilidade à ocorrência deste tipo de movimentos de vertente e na avaliação do potencial de transporte sólido em situação de cheias rápidas.

Atualmente, a suscetibilidade à ocorrência de movimentos de massa em vertente é muito negativa. Para a mesma frequência e duração, será de esperar uma diminuição dos valores atingidos por episódio de precipitação. Uma vez que a forte precipitação acumulada, conjugada com a ocorrência de episódios de precipitação intensa, é o fator desencadeante essencial para os movimentos de vertente na Madeira, os impactes a esperar serão, em igualdade dos restantes fatores, no sentido de uma diminuição da frequência deste fenómeno.

Inundações de influência marítima

De forma geral, os cenários climáticos para a região da Madeira preveem uma subida do nível médio do mar de 35 cm, até final deste século. No contexto do projeto CLIMAAT II, os autores consideraram razoável assumir um aumento de 50 cm até ao final do séc. XXI.

A subida do nível médio do mar aumenta severamente a vulnerabilidade às inundações, nos concelhos da Ribeira Brava e do Machico, onde as áreas urbanas costeiras se situam a cotas muito baixas, sem possibilidade de escoamento de águas em períodos de precipitação intensa e de marés vivas. Esta situação poderá agravar-se em períodos em que haja coincidência temporal e espacial de tempestades marítimas e cheias. A interação entre as tempestades e as cheias levará à intensificação dos impactes destas últimas nos aglomerados urbanos costeiros atravessados por ribeiras.

Neste contexto, deve ser dada atenção particular à ilha de Porto Santo, devido à existência de condições litorais específicas, com uma faixa costeira de praia e dunas de muito baixa altitude, que se estende ao longo da maior parte do setor sudeste da ilha.

Da avaliação das vulnerabilidades atuais e futuras, emerge a noção clara de que é fundamental investir no aprofundamento dos conhecimentos e na monitorização dos processos. Aliás, esta necessidade está já presente em estudos anteriores, mas, ao contrário das obras mais “pesadas”, está ainda longe de ser cumprida.

Da avaliação das vulnerabilidades atuais e futuras, emerge a noção clara de que é fundamental investir no aprofundamento dos conhecimentos e na monitorização dos processos. Aliás, esta necessidade está já presente em estudos anteriores, mas, ao contrário das obras mais “pesadas”, está ainda longe de ser cumprida.

Tendo em conta a diversidade de propostas, já enquadradas em estudos anteriores, mais do que apresentação de novas medidas, retomam-se algumas das já identificadas, em alguns casos amplificando-as e aprofundando-as, numa perspetiva integrada que se considera essencial no contexto dos fenómenos naturais aqui analisados.

Tendo em conta a diversidade de propostas, já enquadradas em estudos anteriores, mais do que apresentação de novas medidas, retomam-se algumas das já identificadas, em alguns casos amplificando-as e aprofundando-as, numa perspetiva integrada que se considera essencial no contexto dos fenómenos naturais aqui analisados.