O arquipélago da Madeira apresenta uma fauna e flora únicas, sendo considerado um ‘hot-spot’ de biodiversidade mediterrânica. Localizado na região biogeográfica da macaronésia, tem um elevado número de endemismos e habitats ricos com uma elevada diversidade de espécies terrestes e marinhas. As alterações climáticas forçam a deslocação dos ecossistemas em altitude, com a potencial extinção local de algumas espécies cujo limiar fisiológico (ou mesmofenológico) seja ultrapassado ou devido ao impacte de eventos extremos.

Foi avaliada a vulnerabilidade atual e futura às alterações climáticas dos vários grupos taxonómicos, terrestres e marinhos, presentes no arquipélago da Madeira. Foram avaliados 8 grupos de fauna e flora terrestre (líquenes, briófitos, plantas vasculares, moluscos, artrópodes, répteis, aves e mamíferos) e 3 grupos de fauna marinha (cetáceos, peixes e invertebrados), num total de 74 espécies representantes desses grupos e dos vários habitats das várias ilhas do arquipélago.

Biodiversidade Terrestre

De entre os grupos terrestres, os briófitos, as plantas vasculares e os moluscos apresentaram o maior número de espécies com uma vulnerabilidade considerada crítica. Em oposição, as espécies que poderão beneficiar com as alterações do clima, havendo oportunidades a explorar no cenário A2 para o longo prazo, pertencem sobretudo ao grupo dos répteis e dos artrópodes. Em geral, as espécies exóticas apresentaram vulnerabilidades neutras ou oportunidades, independentemente do grupo em análise.

As espécies mais vulneráveis às alterações climáticas na RAM são:

i) ectotérmicas e cujo limiar térmico já se encontra perto do seu limite máximo, ou dependentes de eventos de perturbação cíclica;
ii) dependentes de fatores climáticos que despoletem o início das suas atividades ou intervenham nos seus sincronismos biológicos e ecológicos;
iii) especializadas em nichos ambientais singulares ou cuja capacidade de dispersão é bastante limitada;
iv) dependentes de interações bióticas específicas, tanto no caso de simbioses e relações positivas, como no caso de predação ou competição (por exemplo, com espécies invasoras);
v) aquelas cujo habitat é atualmente bastante reduzido ou se encontra fragmentado (não conectado);
vi) aquelas cujas populações estão bastante ameaçadas devido a outras pressões antropogénicas.

Destacam-se as espécies endémicas, pela sua importância óbvia para o património natural mundial e porque serão das espécies mais afetadas, quando comparadas com as restantes. Em termos gerais, são as espécies ainda pouco conhecidas que exploram nichos ecológicos específicos, por vezes degradados, com baixos efetivos populacionais e áreas de distribuição restritas.

Os grupos dos briófitos, plantas vasculares, moluscos e artrópodes poderão sofrer uma redução ao nível do número de espécies e de indivíduos, sobretudo os que possuam baixa capacidade de dispersão ou populações muito fragmentadas. Os restantes grupos serão, no geral, menos impactados negativamente pelas alterações climáticas.

Os mamíferos, apesar de se terem estudado espécies potencialmente sensíveis, como os morcegos, devido à sua ecologia única, parecem ter uma capacidade adaptativa intrínseca robusta, dado que não aparentam ser sensíveis às alterações climáticas.

As aves, devido à sua capacidade de dispersão e distribuição ao longo do arquipélago, são classificadas com vulnerabilidade neutra. Apenas as duas espécies de Freiras avaliadas, devido à elevada especificidade do seu habitat de nidificação, foram consideradas vulneráveis.

Biodiversidade Marinha

As espécies de cetáceos mais vulneráveis são o cachalote e a baleia comum, na classe muito negativa. Espécies como a baleia tropical e o golfinho roaz, associados à ilha da Madeira, apresentam uma vulnerabilidade negativa. Relativamente aos peixes e invertebrados marinhos, poderão surgir tanto impactes negativos (como a redução das populações de espécies de climas mais frios), como impactes positivos, com o aumento da abundância de espécies com afinidades tropicais ou subtropicais e o aparecimento de novas espécies.

Habitats

Os habitats avaliados foram o Maciço Montanhoso Central (caracterizado pela série de vegetação do urzal de altitude), a Floresta Laurissilva (caracterizado pela série de vegetação da Laurissilva mediterrânica e temperada), o Matagal Marmulano (caracterizado pela série de vegetação Mayteno umbeliatae – Oleo madenrensis), o Zambujal Madeirense (caracterizado pela série de vegetação Helichryso melaleuci – Sideroxylo marmulanae).

Em termos gerais, as alterações climáticas irão promover a deslocação destes habitats em altitude. No entanto, esta deslocação poderá estar limitada pelas pressões antropogénicas (como a pressão urbanística e poluição), fragmentação (como vales, montanhas e oceano, no caso das ilhas desertas e selvagens), espécies exóticas (com características invasoras) e eventos climáticoscompostos extremos (como secas ou fogos florestais).

O Maciço Montanhoso Central está condicionado ao topo de ilha da Madeira pelo que não se poderá deslocar em altitude. Casos semelhantes, mas com séries de vegetação diferentes, são os vários habitats das ilhas Desertas e Selvagens por serem relativamente pequenos e confinados.

A Laurissilva tenderá a ganhar território ao habitat do Maciço Montanhoso Central, tal como referido no setor das Florestas. No entanto, ao contrário do setor das Florestas, que considerou a produtividade e distribuição potencial das suas espécies lenhosas, neste setor considerou-se a deterioração da qualidade deste habitat, em termos de riqueza específica (devido à elevada vulnerabilidadedas várias espécies analisadas dos diferentes grupos taxonómicos que fazem parte deste habitat), a degradação da diversidade funcional e da estrutura ecológica deste ecossistema, bem como a interação negativa da pressão climática com outras pressões antropogénicas, considerando-se por isso, que a sua vulnerabilidade tenderá a ser muito negativa.

No caso dos habitats do Zambujal Madeirense e Matagal Marmulano, estes têm distribuição atual extremamente reduzida, fortemente condicionados pela pressão urbana, agrícola e florestal das zonas costeiras da ilha da Madeira, pelo que se considerou a sua vulnerabilidade futura crítica.

As opções de adaptação neste setor passam por: medidas de conservação per se para as espécies e habitats mais vulneráveis; melhoria da conectividade entre habitats, para facilitar o carácter dinâmico introduzido pela variabilidade e alteração climática; monitorização e avaliação constante do estado e evolução da biodiversidade no arquipélago da Madeira; e o aumento do conhecimento para aquelas espécies e habitats cuja incerteza na resposta às alterações climáticas seja elevada.

Algumas das medidas que poderão promover a adaptação da biodiversidade, sem prejuízo de outras que possam ser consideradas, são: a revisão dos estatutos regionais de ameaça de espécies, com base nos critérios definidos pela IUCN; a criação ou manutenção de áreas de proteção,considerando os efeitos das alterações climáticas; garantir a existência de uma paisagem diversificada que suporte uma eficaz rede de corredores ecológicos; e a revisão, implementação e fiscalização de planos de gestão e ação para espécies e habitats vulneráveis e áreas classificadas.

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Vulnerabilidades